quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Alunos do Rodas de Leitura escrevem suas memórias ao final da fase I do Projeto



MEMORIAL
Mariane Dorighelo


Na abertura do curso, lembro-me da fala inicial da profª Graça, que ainda não conhecia pessoalmente, mas já tinha ouvido falar. Estavam lá o profº Wilson, que é vice-diretor da faculdade, profª Gisele e as professoras que estarão à frente do curso: Profª Célia e profª Lucia Helena.
Após as formalidades da abertura, a profª Célia usa a palavra para expor do que trataria o curso. Fiquei impressionada com tanto conhecimento que poderia adquirir, só não sabia ainda como fazer para me ausentar de casa durante tanto tempo, precisaria contar com o apoio de toda a família. No primeiro sábado cheguei em casa muito cansada, extenuada, achei que não daria conta de seguir este ritmo durante tantos sábados. Gradativamente, para minha surpresa, fui me acostumando ao ritmo.
Hoje olho a primeira atividade e acho tão simples: uma frase sobre literatura, mas tive tanto medo em fazê-la, pois era meu primeiro contato escrito, meu primeiro registro no curso. Não conhecia a Célia, mas conhecia a Lucia Helena. Sabia que era exigente e por mais que tentasse produzir uma resposta à avaliação, pensava na crítica. No segundo encontro percebi que não houve certa nem errada. Ela considerou todas as hipóteses. Esse momento foi importante para que ganhássemos confiança em escrever.
Partindo então da produção de uma frase, começamos a produzir textos mais complexos. Viajamos pela história acompanhados pelo profº Daniel e o profº Celso, que nos deram a oportunidade de visitar a Antigüidade Clássica e a Idade Média, historicamente e conhecer o surgimento do registro e seu desenvolvimento até os dias de hoje. Quando recebi o roteiro da Idade Média, pensei: “parece uma prova de história”. Li e reli as perguntas várias vezes e não conseguia elaborar nenhuma resposta. De tanto insistir, arrisquei escrever alguma coisa, fui gostando, pesquisando e enfim concluí. Mostrei para meu marido, que faz História e ele me perguntou espantado: “onde você ouviu falar dos cátaros?”. Ri por dentro. O conhecimento de História não estava mais confinado às quatro paredes do seu curso, eu poderia visitá-lo, conhecê-lo, que delícia!
Era chegada a hora de ouvirmos “histórias”. Demorou em eu entender que para contar histórias era preciso ouvi-las sendo contadas. Por mais que estudássemos as técnicas era importante experimentá-las. Quando comecei o curso já tinha alguma habilidade em contar histórias. Como professora sempre achei importante aproximar o livro do leitor, mas com o curso pude entender o valor da literatura: Quando um clássico, segundo Calvino:
“Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual”.
Ou como Salinas:
“Um clássico é um livro que sempre presta ao espírito do homem um serviço da mais alta qualidade”.
A arte da literatura como expressão do homem, traduz seus sentimentos e propõe sempre a busca da felicidade, seja numa poesia, num romance, numa fábula, numa crônica. O autor se utiliza desses diversos gêneros para manifestar suas idéias.
O curso promoveu uma apreciação refinada para todos os gêneros, em especial para literatura, que é nosso foco, mas uma área de interesse vai se acrescentando a outra, tornando impossível a apreciação de apenas um discurso literário. Algo relevante existente no curso é sua interdisciplinaridade. Lendo sobre literatura pude compreender melhores os textos filosóficos, históricos e outros. Isso nos permite uma visão mais global e humana do mundo. Habilidade pertinente para o professor que deve levar em conta o aspecto afetivo do aluno para a aprendizagem.
Nossos encontros com a profª Lucia Helena foram de ensino metodológico, sobre o ensino de leitura e referenciais teóricos que nos fizeram refletir sobre os métodos utilizados para se chegar a um nível de leitor competente. Uma rica bibliografia dava consistência aos textos. Pesquisadores, engajados em entender e aprimorar os processos de leitura, tentando descobrir os motivos do fracasso na compreensão leitora nos forneceram estratégias bem elaboradas, fruto de muito estudo, para que fossem aplicadas em sala de aula.
Todos os encontros eram pautados na leitura: sua compreensão; estratégias de leituras, qual processo para se tornar um leitor competente; saberes e operações; previsões; conhecimentos prévios do leitor; objetivos da leitura, para que ler, que segundo Isabel Solé:
“O processo de leitura deve garantir que o leitor compreenda o texto e pode ir construindo uma idéia sobre seu conteúdo, extraindo dele o que lhe interessa, em função dos seus objetivos... É um processo interno, mas deve ser ensinado...”
Isabel Solé como outros pesquisadores contribuíram para uma reflexão sobre o que estamos promovendo em sala de aula: alunos autônomos, críticos ou copistas mecânicos? Partilham dessas discussões autores como Miguel Sánchez, M. de Ávalos Viramonte, J. A. Madruga Garcia, e outros.
Dentre as experiências, quero destacar o dia em que ela nos apresentou a poesia Tecendo a manhã, de João Cabral de Mello Neto. Foi muito impactante. Não voltei para casa andando, mas voando. Fiquei dias pensando na poesia, tirei cópias e deixei na bolsa que vou trabalhar. Quando fui dar aula para uma 4ª série, refiz todo o processo que tinha aprendido. Distribuí a poesia, lemos, interpretamos. Senti que eles não tinham muita familiaridade com poesia e não foi tão produtivo quanto foi para mim. Porém algo me surpreendeu: perguntei se eles conheciam o autor. Todos disseram que não, então propus uma pesquisa. No dia seguinte choveu pesquisa a este respeito. Fiquei satisfeita com o interesse deles.
Outro momento de muito aprendizado foi o do seminário. Lendo o texto: “Estratégias de leitura”, logo percebi que estava diante de um texto complexo e técnico, que não permitia uma análise que não fosse condizente com ele. Não podia achar. Tinha que me expressar baseando nas idéias do texto. Senti na pele a dificuldade de entendimento e quanto a sua falta não permite uma construção cognitiva coerente. Estudei durante a semana toda e de quebra li o livro da Isabel Solé, pois achei necessário. O resultado foi bom, fiquei familiarizada com as terminologias. Descobri uma habilidade de apresentar seminários que nem sabia que tinha e quem mais aprendeu, sem dúvida fui eu, pelas pesquisas e leituras. No seminário, assim como na aula, nosso ouvinte deve estar entendendo e o professor tem que, efetivamente, ajudá-lo a construir um saber e não somente elencando informações soltas.
Toda essa reflexão deve permear os seminários.
Nos encontros com a profª Célia, nós discutimos e debatemos sobre as rodas de leitura: teoria e prática. Entramos em contato com diferentes gêneros, com o texto e o que há por trás ou entre o texto, identificamos sua função que pode ser a leitura por prazer, para aprender, conhecer e informar. Dividindo o tempo com a roda de leitura, aprendíamos a seqüência didática: o antes, durante e depois da leitura na prática e na teoria. Essa técnica tem sido explorada por mim, gradativamente, pois quanto mais utilizo, mais verifico possibilidades, corrijo outras. Tenho utilizado em todas as disciplinas até em matemática quando vou introduzir um tema novo e tenho constatado o quanto é útil e importante. Além da seqüência didática aprendemos sobre as competências leitoras para que antes de iniciar uma leitura, devemos compreendê-la como diálogo que começa antes mesmo da leitura integral; explorar o texto, permitindo antecipar a idéia principal do assunto, o que confirma sua utilização inclusive na matemática.
Na seqüência didática, em que exploramos as habilidades da leitura, seguimos passo a passo três momentos.
Antes da leitura: consideramos o momento mais importante da leitura, é nele que vamos explorar e levantar hipóteses acerca do texto. Permitimos ao aluno pensar sobre o texto a partir dos conhecimentos prévios que ele já conhece e explorar outros desconhecidos, possibilitando a construção de um repertório possível.
Durante a leitura: está atrelado ao antes da leitura, porque todas as hipóteses levantadas são agora confirmadas ou retificadas; a análise é sobre o texto em si: idéia principal; palavra-chave; informações complementares em outros textos; detectar a posição do autor; construção global do texto. Nesse processo desenvolvemos no leitor a habilidade de compreender o texto através de comparações; identificar a idéia principal do texto e agrupá-las com outras fontes. É um exercício complexo, difícil, porém é aqui que começa a formação integral do aluno ou o que chamamos de leitor competente.
Depois da leitura: quando o processo antes e durante forem bem executados, o depois flui de maneira espontânea porque ele é uma resposta ao texto, uma crítica. É importante fazer a checagem através de um resumo, crítica ou confecção coletiva do entendimento da classe, para que o professor tenha subsídios para avaliar seu entendimento. É nesse momento que o professor reflete sobre quais estratégias usar para transpor os obstáculos na dificuldade da compreensão leitora.
Dentre os gêneros, apreciamos a história da oralidade e a estratégia usada para ativarmos nossos conhecimentos prévios e avaliarmos sua importância e seu contexto foi o filme Narradores de Javé. Fizemos, então nosso primeiro trabalho de campo que consistia em entrevistar uma pessoa no intuito de registrar uma história até aqui sem registro impresso. Não só eu, mas todos os alunos perceberam a importância que a entrevista dava ao entrevistado, sentindo-se honrado de poder contribuir com sua história para o curso. Histórias contadas, às vezes de pai para filho, não perdiam suas marcas e sempre nos ensinava.
Aprendemos sobre causos e pensava que eles não mais existiam. Para mim os efeitos dos causos foram renovadores, pois vi uma função social antes de literária. Pude enxergá-los como um resgate de pessoas comuns à comunidade de leitores, como contadores de causos. Reconheci sua riqueza depois dessa aula.
Diverti-me bastante fazendo meu auto-retrato e achei relativamente fácil saber a diferença entre eles: autobiografia e biografia.
Os momentos de oficina sempre foram prazerosos. A princípio achava desnecessário ouvir as histórias, mas quando fui percebendo todo o processo e o impacto que elas me causavam, fui ficando dependente delas. Saía sempre diferente do que entrava após uma história e comecei a refletir que eu também poderia beneficiar outras pessoas com as histórias e isto funcionou em mim como uma mola propulsora, fazendo-me capaz de enfrentar os obstáculos. Metaforicamente era um poço em que me abastecia diante do deserto.
Durante todo o percurso aprendi muito. A cada tarefa feita sentia que desdobrava conhecimentos e estes foram ampliando minha visão de mundo ao mesmo tempo em que sempre achava um propósito para ele. Faço pedagogia e um dia minha irmã me perguntou se o curso que eu estava fazendo me ajudava na faculdade. Respondi que sim e muito. Embora o curso não esteja diretamente ligado às disciplinas, ele desenvolve habilidades leitoras que facilitam muito o aprendizado de qualquer disciplina. Sob este ponto de vista, é notório afirmar sua abrangência e prática.
Minhas considerações finais: como não gostar de um curso que me permitiu fazer descobertas; quebrar paradigmas; abrir fronteiras; transpor limites; possibilitar sonhos. Nunca aprendi tanto em tão pouco tempo. No meu cotidiano, hoje vivo suas marcas. Quero dizer com isto que interionalizei-o. Ele faz parte de mim e eu dele. Dá até para virar poeta e dizer que nos sentimos menos solitários quando tomamos posse dos saberes da leitura e suas implicações.
E finalmente minha profunda gratidão a profª Célia e sua fiel escudeira profa. Lucia Helena, ambas comprometidas com muita seriedade por um ensino de qualidade e que não mediram esforços para nos ensinar; pela participação e colaboração dos profºs Daniel e Celso Firmino; pelo apoio do vice-diretor profº Wilson; pela nossa mediadora das tarefas e outras competências, colega Michelli, pelos colegas de classe que aprendi a respeitar e gostar e também pela senhorinha que fazia nosso gostoso cafezinho.



Professoras : Msc. Célia Firmino
Msc. Lucia Helena Tozzi Silva
Aluna: Mariane Dorighello Cadamuro
Data: 18/10/07
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MEMORIAL


Márcia Maria de Albuquerque

Tudo começou quando a minha coordenadora Regiane me ofereceu a vaga para participar do projeto devido a impossibilidade dela estar participando, ela disse que o curso seria muito bom, seria ministrado pela professora Célia Firmino só não citou o tema do curso, a diretora tinha indicado uma professora da 1ª série pelo fato de ser alfabetizadora seria interessante o curso, a mesma não pode aceitar por não estar disponível aos sábados, então...
No início do curso tive dúvidas se ficaria até o final pois as exigências e a dedicação do tempo era longa, no ano passado fiz o curso Letra e Vida em apenas um período e nos últimos dias já estava bem cansada.
A primeira proposta de atividade: criar uma frase sobre literatura foi um momento perturbador, não me considero criativa e quando se escreve para um público experiente aumenta a responsabilidade adiei o momento e até que fiz e enviei, claro que antes mostrei para meus colegas de trabalho e pessoal de casa. O resultado final eu gostei, me surpreendi, isto também aconteceu quando elaborei um horóscopo poético.
Achei ótimos os encontros com os professores Daniel e Celso, a metodologia e os conteúdos trabalhados foram bem dinâmicos e contextualizados.Foi a terceira vez que vi o filme O Nome da Rosa, mas cada vez é como fosse a primeira.Também foi de grande valia os filmes Central do Brasil e Narradores de Javé (primeira vez que assisto).O Central do Brasil despertou em mim uma reflexão a cerca de quão importante é a escrita, senti até vontade de estar numa região em que pudesse ser voluntária auxiliando no processo de escrita, na primeira vez que assisti fiquei muito presa nas características negativas da Fernanda Montenegro.
O conceito que tinha em relação a uma roda de leitura sempre me foi vago, ao participar deste projeto fui aprendendo como se organiza uma roda de leitura. Tinha idéia que numa leitura de história nunca o contador poderia ser interrompido, agora aprendi que as intervenções e interações acontecem com as mediações do contador de histórias e quanto maior o preparo será o sucesso da roda. A minha visão e prática de roda de leitura foi modificada.Percebi que houve mais interesse nos alunos quando apliquei alguns aspectos que aprendi no projeto em relação ao antes, durante e depois da leitura.
A cada vez que abria o e-mail enviado lia o enunciado da pergunta e me perguntava: “será que consigo responder?” e então adiava a entrega e até que não tinha mais como evitar e fazia, lia e relia as apostilas, consultava minhas anotações, grifava os textos, rascunhava as respostas e enfim mandava as respostas (sempre muito objetiva) e mesmo assim apreensiva se tinha ou não atingido o objetivo das perguntas e das professoras. Sempre senti uma lacuna em relação à área de Língua Portuguesa, ao prestar vestibular coloquei as duas opções: Pedagogia e Letras, cursei Pedagogia e sempre senti vontade de fazer um curso de Letras, pode ser por ter tido excelentes professores nesta área e também como podemos viajar no mundo da leitura e fazer tantas descobertas que uma leitura superficial ou sem um contexto de história, e do autor não é possível. Quem sabe um dia ainda faço? Eu não gosto é da Língua Inglesa (disciplina do curso), apesar de saber sua importância no mundo (globalização).
Já participei de alguns cursos promovidos pelo município ao longo de meus seis anos de atuação, mas posso enumerar apenas dois que tiveram um pouco de aprofundamento em teoria, mesmo assim não são compatíveis ao projeto “Rodas de leitura: uma proposta de Leiturização social”, neste projeto não se pode citar apenas a teoria, mas também o grau de exigência e comprometimento dos participantes e a possibilidade de trazer para a prática docente. Os termos como hipótese, inferência e verificação já conhecia mas poucas vezes usei em sala de aula agora percebi que essas estratégias podem ser usadas não somente na aula de Língua Portuguesa, também em outras disciplinas.
Quanto às trocas de experiências entre os colegas foi algo que contribuiu muito principalmente quando reunimos para elaboração dos seminários, ou resolver atividades em duplas, nestes momentos trocávamos impressões em relação ao curso: dificuldades para prosseguir o curso, resolver atividades, os pontos fortes e trocar experiências de sala de aula, também permitiu alargar as amizades nos cafezinhos.
Em relação ao meu desempenho acredito ser satisfatório, faltei apenas um dia, sempre estive atenta às discussões, fazendo anotações ou articulando mentalmente a alguma situação de sala de aula, teve situações já no final da fase I que devido ao cansaço senti sono, e ficava impaciente quando algumas pessoas exemplificavam demais um assunto ou a leitura do texto tinha muitas paradas e não avançava nas discussões, quanto às atividades entregues via e-mail não fui muito pontual, ficava muito preocupada em não responder qualquer coisa e ficava adiando a entrega, no final acumulou as atividades causando em mim constante preocupação, mas mesmo assim consegui conclui o portifólio na data estipulada.
Acredito agora mais do que nunca na importância de se formar alunos leitores literários desde as séries iniciais antes de se preocupar com interpretações de textos é necessário ensinar a ler, analisar as intenções dos diferentes tipos de textos e diferentes intenções do autor.A função da escola não é apenas de decodificar ou ensinar a ler e sim estabelecer relações interativas com os textos e aos poucos formar leitores autônomos utilizando estratégias como auto-controle da leitura, levantamento e verificações das hipóteses, estabelecer relações com seu conhecimento de mundo e desta forma conseguir compreender o que lê.
Em relação às oficinas de rodas de leitura vou desenvolver com meus alunos de 4ª série e sei que será uma experiência bem enriquecedora tanto para mim quanto para eles.
Estou apreensiva quanto ao desenvolvimento do curso de formação que vou participar como formadora em 2008, nunca tive essa experiência de estar ensinando algo que aprendi para adultos, minhas participações neste sentido só foram em seminários na faculdade, na pós- graduação e agora no projeto de extensão.
Para finalizar sou grata pela oportunidade de participar do projeto, espero concluir todas as próximas fases e sinto privilegiada em ter a presença das ministrantes do curso.