sábado, 27 de agosto de 2011

Uma viola-de-amor

Vinicius de Moraes

Dêem ao homem uma viola-de-amor e façam-no cantar um canto assim... "Sairei de mim mesmo e irei ao encontro das flores humildes dos caminhos e das lentas aves dos crepúsculos, cujo pipilo suspende na paisagem uma lágrima que nunca se derrama. Sairei de mim mesmo em busca de mim mesmo, em busca de minha imagem perdida nos abismos do desespero, minha imagem de cuja face já não me lembro mais...
"Sairei de mim mesmo em busca das melodias esquecidas na memória, em busca dos instantes de total abandono e beleza, em busca dos milagres ainda não acontecidos...
"Que eu seja novamente aquele que ergue do chão o pássaro ferido e, no calor de sua mão, dá-lhe de morrer em paz; aquele que, em sua eterna peregrinação em busca da vida, ajuda o camponês a consertar a roda do seu carro...
"Que me seja dado, em minhas andanças, restituir a cada ser humano o consolo de chorar dias de lágrimas; e depois levá-lo lá onde existe a luz e chorar eu próprio ante a beleza do seu pranto ao sol...
"Possa eu mirar novamente os pélagos e compreendê-los; atravessar os desertos e amá-los. Possa eu deitar-me à noite na areia das praias e manter com as estrelas em delírio o colóquio da eternidade. Possa eu voltar a ser aquele que não teme ficar só consigo mesmo, numa dura solidão sem deliquescência...
"Bem haja o meu irmão no meu caminho, com as suas úlceras à mostra, que a ele eu hei de curar e dar abrigo no meu peito, Bem haja no meu caminho a dor do meu semelhante, que a ela estarei desvelado e atento...
"Seja a mulher a mãe, a esposa, a amante, a filha, a bem-amada do meu coração; possa eu amá-la e respeitá-la, dar-lhe filhos e silêncios. Possa eu coroá-la de folhas da primavera em seu nascimento, seu conúbio e sua morte. Tenha eu no meu pensamento a ideia constante de querê-la e lhe prestar serviço...
"Que o meu rosto reflita nos espelhos um olhar doce e tranquilo, mesmo no mais fundo sofrimento; e que eu não me esqueça nunca que devo estar constantemente em guarda de mim mesmo, para que sejam humanos e dignos o meu orgulho e a minha humildade, e para eu cresça sempre no sentido de Tempo...
"Pois o meu coração está antes de tudo com os que têm menos do que eu, e com os que, tendo mais do que eu, nada têm. Pois o meu coração está com a ovelha e não com o lobo; com o condenado e não com o carrasco…
"E que este seja o meu canto e o escutem os surdos de carinho e de piedade; e que ele vibre com um sino nos ouvidos dos falsos apóstolos dos falsos apóstatas; pois eu sou o homem, ser de poesia, portador do segredo e sua incomunicabilidade – e o meu largo canto vibra acima dos ócios e ressentimentos, das intrigas e vinganças, nos espaços infinitos...".
Dêem ao homem uma viola-de-amor e façam-no cantar um canto assim, que sua voz está rouca de tanto insulto inútil e seu coração triste, de tanta vã mentira que lhe ensinaram.



in Para uma menina com uma flor (crônicas)
in Poesia completa e prosa: "Para uma menina com uma flor"



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Sobre homens e pássaros

A mente humana não possui limites para sonhar. Mesmo quando estamos dormindo podemos ter sonhos. Mas a mente, pode também, entrar em conflito que reflete em sentimentos como medo, tristeza, depressão e até loucura. Para tentarmos entender isso melhor, vou lhes contar uma breve estória.
Um homem tem sua família, sua casa, sua vida e pode estar infeliz com tudo isso. Ele está onde não quer estar. Ele está louco? Esse mesmo homem foge e leva consigo uma bengala, uma bolsa, um chapéu, uma capa vermelha e muitos, muitos pássaros dentro de si.
Meu caro leitor perguntaria então: o tal homem levou pássaros dentro de si? Ora, quem está louco é você, e não o homem.
Não, não estou louca. Eu poderia ter dito que além dos objetos, ele levou também consigo um forte desejo de liberdade, sua vontade de estar em outro lugar; seus conflitos; seus medos; sua ‘loucura’, ou seja, seus sentimentos mais profundos. Apenas nomeei tudo isso como ‘pássaros’.
E poderei ainda dizer que os tais pássaros que ele levou ninguém nunca os entendeu. Um dia, o homem tentou deixar à mostra esses pássaros para que eles fossem vistos, analisados; mas ao mesmo tempo o homem sabia que ninguém nunca poderia tocá-los.
Bem, mas estávamos falando sobre a mente humana. E o que este homem e seus pássaros têm a ver com isso? Será que ao longo deste texto você conseguiu criar uma identidade para este homem? E eu te respondo: ele poderia ser seu pai, seu amigo, seu professor ou ainda você mesmo.
Muitas vezes entramos em conflitos com nossos desejos ou com o rumo da nossa própria vida. São aqueles momentos que devemos parar, refletir e analisar nossos atos, para então seguirmos em frente. Devemos ser nossos próprios terapeutas e tocar nossos pássaros interiores,
abrir o portão e seguir nosso caminho sem temer, nem olhar para trás.

Autora: Silmara Cristina Carneiro, aluna do 7° termo de Letras.
Produção baseada na atividade de analise comparada entre "História de Passarinho", de Lygia Fagundes Telles e a obra de René Magritte, "O Terapeuta". Disciplina de Literatura Brasileira, profa. Msc. Célia Firmino.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Diálogo

- Não seja tão insegura.
- Não seja tão boazinha.
- Chore menos.
- Fale mais.
- Você precisa se organizar.
- Seja mais paciente.
- Ansiedade faz mal.
- Não se precipite.
- Pare de agradar os outros.
- Confie em você.
- Não esqueça suas responsabilidades.
- Anime-se.

- Eu sou quem quero ser ou quem acho que sou?
- Sou a imagem que fugiu do espelho.


Por:Tuani Luiza Soeiro(2 Letras)